sábado, 3 de janeiro de 2009

Erasmus em Paris - Sara Garrido






















"Viajar! Ser outro a cada dia!", dizia Fernando Pessoa.

Faz exactamente três meses que cheguei aquela que para mim é" a terra de ninguém", Paris.
Porquê esta cidade? Esta pergunta foi-me feita há pouco tempo por um conjunto de estudantes parisienses para um trabalho, quando jantava num Kebab, após um concerto de música clássica no Louvre.
A resposta foi simples. Queria um espaço cosmopolita, um centro cultural, com história, arte, uma cidade que me fizesse evoluir, e me permitisse "ser outra em cada dia", desprovida de qualquer tipo de preconceitos.
Parti em busca de uma parte da minha educação, a qual não a poderia apreender através dos livros, mas sim de um saber vivido, experienciado.
Embora o nosso curso coloque alguns entraves a esta aventura, devido as especificidades do direito de cada país, para mim sem duvida esta será uma das experiencias mais enriquecedoras de toda a minha vida.
Paris é uma cidade maravilhosa, cheia de cor e de oportunidades para os jovens. Inúmeros museus, cafés, teatros, bibliotecas, cinemas, músicos no metro, na rua, fazem as delícias de quem lá passa, para além de que muitos destes são gratuitos ou a baixo custo para os jovens.
Quando digo que esta cidade é "território de ninguém", basta estarmos parados numa grande estação de metro em hora de ponta, a ver as pessoas alienadas a correr, para compreendermos essa expressão. Sentimos que acordamos no momento em que a torre de babel tombou. Cores, aspectos, marcas culturais, línguas diferentes. Tudo isto concorre para que não nos sintamos estrangeiros, afinal esta terra é lugar-comum de uma multiculturalidade.
Quanto a universidade, Paris 2 é de facto bastante difícil. Contrariamente ao que todos os Erasmus esperam, nesta escola a avaliação não é facilitada por sermos estudantes de fora. Todavia vemos o quão bem preparados estamos, já que a única cadeira a que de facto tenho dificuldades de compreensão é contencioso administrativo, visto que o sistema francês é dotado de uma grande especificidade. Por outro lado, é admirável a metodologia com que os professores ensinam e trabalham. Fiquei francamente surpreendida pela maturidade dos alunos, parecem-me profissionais do que fazem.
No inicio senti-me completamente perdida. Sou a única estrangeira na maior parte das minhas aulas e os jovens franceses não são de todo acolhedores. Como não há regra sem excepção o que me valeu foram alguns que conheci, entre os quais duas filhas de portugueses, que me explicaram como responder as questões de exame e me deram vários resumos da matéria.
Um grande problema para um estudante que se lança à estrada a caminho de Paris é sem dúvida o alojamento. No meu caso, sinto-me bafejada pela sorte, já que vivo na Cité-U, que é uma mini cidade dentro de Paris, com residências típicas de cada país, preparadas para receber estudantes de todas as partes do mundo. Esta tem uma magnífica biblioteca, jardins, piscina, vários campos de ténis, futebol, aulas de desporto a preços irrisórios, teatro, cinema, restaurantes, inúmeras festas e actividades culturais nas varias casas...Enfim, basta lá vivermos para termos todo o nosso tempo ocupado. Esta tem todos os meios de transporte parisienses à porta. De todas as casas que lá existem, quis a sorte que me fosse atribuída a Maison Honnorat, uma residência internacional e como tal habitam lá pessoas de todo o mundo. A minha companheira de quarto, por exemplo, é marroquina.
Para além disso quando a saudade aperta, basta-me só atravessar a cite para chegar a uma "comunidade tuga", lá encontro uma igreja portuguesa, uma padaria com pastéis de Belém, frango de churrasco e um café onde eu e os outros portugueses nos reunimos para ver o grande Porto jogar.Entre festas, soirées, viagens, tardes em museus, muitas coisas ficam por dizer, muitas aventuras por contar. Contudo a verdade é que qualquer texto fica aquém do que é ser Erasmus, do que é viver esta experiência. Estou em Paris, poderia estar em qualquer outro sítio. Desde que levemos a nossa mente aberta, encontraremos sempre "estranhos" como nós, prontos a criar laços e a trocar ideias, até que um dia nos apercebemos que já não somos "estranhos" e que também lá, já temos o nosso cantinho.
Sara Garrido

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