quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Erasmus em Barcelona - Mariana Dias


Por volta desta altura, no ano passado, comecei a pensar em possíveis destinos para fazer «Erasmus» no meu último ano da licenciatura. Dos países europeus com que a Faculdade tem protocolos surgiam como mais apelativos a Holanda e Espanha. Nunca tendo estado no primeiro e possuindo apenas como referência as fotografias e relatos que sobre ele via e ouvia, a opção mais viável era o segundo. A escolha seria necessariamente entre Madrid ou Barcelona, já que me cativava a ideia de viver numa cidade grande e movimentada, em oposição à pequena Coimbra. Então, optei pela segunda, pois tinha lá estado a passar férias no ano anterior e conhecia outras pessoas que já lá estudaram também. Quem pensa que Espanha não será uma boa escolha, devido à proximidade e semelhanças com Portugal, não poderá estar mais enganado.Depois de tudo estar efectivado e ter sido admitida na «Facultad de Derecho de la Universidad de Barcelona», lá fui com os meus pais na primeira semana de Agosto, procurar um quarto para morar. As ofertas da agência imobiliária sugerida pela Universidade mostraram-se pouco interessantes (quartos caros e fracos), por isso, valeram-nos os (poucos) anúncios espalhados pela Faculdade, dos quais saiu a escolha final. Assim, logo no primeiro dia de buscas já tinha quarto! Simples, mas numa casa bem simpática, com um enorme terraço, pertíssimo de uma paragem de metro e da Faculdade também. Como «compañeros de piso» estão um argentino estudante de Design e Moda e uma espanhola estudante de Mecânica Naval.Na primeira semana de Setembro fui então para Barcelona, para frequentar um curso de «introdução ao direito espanhol» que a Faculdade disponibiliza gratuitamente para os estudantes «Erasmus» se ambientarem antes do começo das aulas. Conheci logo imensa gente de quase todos os países da Europa e, ao fim do segundo dia, já estávamos a programar coisas para fazer todos juntos. É esse ainda o grupo de pessoas com quem me dou e que são os meus amigos lá. Já me tinham referido que era bom fazer-se um curso de línguas à chegada, pois conhece-se imensa gente numa altura em que ninguém tem ainda grupos formados, mas tendo feito dois cursos livres de Língua Espanhola na FLUC no ano anterior, optei por fazer só este. Mas acabei por até conhecer depois outras pessoas novas, que eram colegas dos meus amigos nos ditos cursos de línguas feitos à chegada. O contacto com colegas de outros países não poderia ter corrido melhor, toda a gente é muito simpática e foi fácil encontrar pessoas parecidas comigo, com gostos e ideias semelhantes. Estando todos longe de casa, mas com vontade de fazer de Barcelona a nossa nova casa, as relações pessoais desenvolvem-se a um ritmo mais acelerado que o normal, ganhando-se proximidade e fazendo-se amizade com pessoas que ainda há pouco tempo conhecemos. Depois deste convívio intenso que aproveitamos durante a nossa estadia conjunta, fica a certeza de que ganhámos amigos para a vida, com promessas de visitas mútuas e a oportunidade de viajar para países por enquanto ainda desconhecidos ou pouco explorados, com os melhoes guias que lá poderíamos arranjar.Com o começo das aulas, tratei das questões burocráticas da matrícula e do contrato de estudos e toda a gente lá foi bastante solícita e prestável ao ajudar-nos a resolver estas situações. Vou ter equivalência às cadeiras todas do 4.º ano, excepto Direito Penal III, que terei de fazer em Coimbra. Penso que quanto a esta questão a minha Faculdade é muito boa, pois tem muitas disciplinas semelhantes às portuguesas e é fácil conseguir as equivalências. Como as cadeiras que quero fazer lá são de anos diferentes, tenho as minhas aulas todas concentradas apenas em três dias da semana, tendo depois quatro dias livres sem aulas nenhumas. Há a possibilidade de escolhermos os nossos horários entre várias hipóteses, assim como escolher se queremos ter as aulas em castelhano ou em catalão. Escolhi todas em castelhano e uma (Direito Internacional Privado) em inglês, sendo que é bastante fácil acompanhar aulas e as explicações dos professores. Os professores são bastante solícitos e têm uma relação mais próxima com os alunos, sendo que é normal disponibilizarem-se a pôr sentenças ou artigos doutrinais que julgam útil lermos na internet, marcam horas de atendimento individuais com cada aluno nos seus gabinetes e há sempre muita gente no final das aulas a fazer-lhes perguntas. Apesar de o ensino ser menos exigente que o nosso de Coimbra (tive, inclusive, um professor que me disse que isso acontecia por toda a Espanha, onde os padrões de exigência tinham descido muito nos últimos tempos e que nós em Portugal temos «super-universidades»), já tive a oportunidade de fazer coisas diferentes das que estava habituada: realizei um trabalho escrito que apresentei oralmente numa aula, fiz um trabalho de grupo que também foi discutido na aula com os membros dos outros grupos, tenho as aulas duma cadeira em inglês, etc... que são exercícios que me parecem bastante úteis para a nossa formação académica e que diversificam o tipo de avaliação usual em Coimbra (um exame final, do qual dependerá a totalidade da nossa classificação).Quanto aos tempos-livres, numa cidade tão grande e rica como Barcelona, não é difícil encontrar o que fazer. Há sempre novos museus, lojas, mercados, ruas, bairros, cafés a visitar e sítios lindos por onde passear. Por todo o lado se anunciam concertos, espectáculos, peças de teatro, estreias de cinema, eventos e facilmente conseguimos encontrar coisas que fazer gratuitamente ou com preços reduzidos. No primeiro domingo de cada mês, a entrada nos museus é gratuita. Cada bairro tem a sua biblioteca, onde qualquer pessoa se faz sócio gratuitamente e, logo nesse momento, nos dão um cartão que nos permite requisitar livros, cds e dvds em qualquer biblioteca pública de Barcelona. É uma cidade sempre em movimento e muito animada, de modo que ainda não tive nenhum momento em que não tivesse nada para fazer. Cada bairro tem uma arquitectura muito própria e não é preciso ir a um museu para se admirar arte: cada prédio é em si um monumento, cada rua está cheia de pequenos detalhes, desde lojas que mantêm a fachada e letreiros antigos, até casas de imigrantes decoradas com as cores e símbolos do seu país.A cidade é também muito turística e em todo o lado se vêem os autocarros do «sightseeing» cheios de gente, qualquer que seja o dia da semana ou altura do ano. No metro ouve-se falar os mais diversos idiomas, pois é uma cidade extremamente cosmopolita e cheia de culturas diferentes. Eu tenho viajado maioritariamente de metro, mas também há uma boa rede de autocarros e muita gente que utiliza a bicicleta como meio de transporte. Aliás, há um serviço de bicicletas chamado «bicing», cuja primeira meia hora de utilização é gratuita e com pontos de empréstimo espalhados por toda a cidade. Sendo uma cidade com tantos turistas, é comum haver furtos, nos pontos mais frequentados, mas é uma questão de se terem alguns cuidados extra e andar-se sempre em grupo à noite, principalmente. O tempo é fantástico e até ao início de Novembro andei sempre de manga curta com o calor que fazia. Agora já está mais frio, mas quase sempre com o céu limpo e sol, raras são as vezes em que chove (a Catalunha tem aliás um grave problema de seca, precisamente por causa disso). Por tudo o que já disse, penso que é uma cidade extremamente completa: um grande centro urbano, recheado de movimento e animação, com praia e montanha mesmo ao pé; um bom ponto de partida para as mais importantes cidades europeias, pois quase todas as companhias aéreas (principalmente as «low-cost») por lá passam, tornando-se simples e barato visitar outros colegas e amigos que estejam fora, ou voltar a Portugal; um núcleo cultural e artístico de excelência, povoado por museus, exposições e arte; um local de encontro de várias nacionalidades, um verdadeiro «melting pot» de culturas; a oportunidade única de vivermos e nos sentirmos no centro de algo fantástico que está a acontecer.Assim, só posso concluir que ainda bem que me candidatei a fazer «Erasmus» durante um ano inteiro, pois estaria já cheia de pena agora se a minha experiência estivesse prestes a acabar por aqui. Porque, pelos 3 meses que já passei em Barcelona, já deu para perceber que é preciso muito mais tempo para absorver tudo o que esta cidade espectacular e o viver fora de Portugal têm para oferecer.


Mariana Dias


P.S. - Desde que começou a minha experiência «Erasmus» que criei um blog que actualizo com frequência com fotos e relatos do que tenho feito, uma espécie de diário para a posteridade que regista como este ano está a ser. Assim, podem ler com mais detalhe sobre o que tenho feito aqui: http://proximaestacao-barcelona.blogspot.com/

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